Como deixar de ser um insciente
e um pisa-mansinho na hora de
xingar o próximo

Marcelo Marthe

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"O primeiro homem que disparou um insulto em vez de atirar pedras foi o fundador da civilização", disse certa vez Sigmund Freud, o pai da psicanálise. É possível afirmar ainda que o primeiro homem a gritar uma ofensa foi também o inventor de uma arte que requer humor e raciocínio rápido. Um livro que mostra como palavras comuns foram transformadas em armas afiadas chega às livrarias nesta semana. É o Dicionário Brasileiro de Insultos (Ateliê Editorial; 364 páginas; 30 reais), organizado pelo professor Luís Milanesi, vice-diretor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. O autor, que assina sob o pseudônimo de Altair J. Aranha, garimpou 3.000 verbetes (veja quadro) que vão dos palavrões mais chulos até termos aparentemente inocentes, como ácaro. Sim, ácaro: o aracnídeo microscópico que causa alergia respiratória também pode designar pessoas que "agem de modo imperceptível para degradar o ambiente e torná-lo ruim à sobrevivência dos demais".

Com base no atual lançamento, é possível tirar algumas conclusões sobre esse universo lingüístico. A mais óbvia delas: o insulto é politicamente incorreto por natureza. Mais da metade dos termos que aparecem no livro explora o machismo, o preconceito (racial ou sexual) e os defeitos físicos. Outra constatação é que, assim como as gírias em geral, alguns insultos vão perdendo voltagem ou até sentido. Têm prazo de validade. De escova-botas (sujeito bajulador) a cabrião (aquele chato incorrigível), há grande quantidade de insultos dos tempos d'antanho que hoje soam engraçados. O dicionário também mostra que esse gênero de vocabulário está muito sujeito às variações regionais. Um exemplo: enquanto na maior parte do país a palavra "frango" remete apenas ao filhote da galinha, em Pernambuco ela também é um modo ofensivo de chamar alguém de homossexual. Se faltar munição na hora do bate-boca, Milanesi indica a saída: é sacar um termo tão desconhecido que deixe o adversário em estado de perplexidade. Quem sabe, digamos, alguma palavra sonora como cacóstomo (pessoa que tem mau hálito) ou insciente (um jeito educado de chamar de ignorante). Basta abrir o dicionário – de insultos ou não – e escolher.
Cinco verbetes do Dicionário Brasileiro de Insultos ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() |
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