projeto cadaFalso



Nós do projeto cadaFalso compreendemos que o fazer artístico é sempre uma prática relacional. Deste modo, não existe arte sem alteridade: o outro constitutivo de todo discurso, dialógico e polifônico, e o outro presente e interativo: as relações com o público, com os espaços institucionais e, como não poderia deixar de ser, com os coletivos que se agrupam em torno da arte. É esse intercâmbio concreto e necessário que enriquece os interlocutores e evita os ilhamentos estéticos e mesmo ideológicos.
O grupo Teatro Máquina tem se notabilizado por um trabalho de pesquisa e produção bastante peculiar na cena cearense. Sua base teórica em torno do desvelamento da maquinaria cênica nos interessa bastante, visto que vislumbramos em nossa prática de pesquisa a “desficcionalização” da arte como objeto contemplativo. Não nos interessa uma arte que separe o artista de sua prática ou, mais ainda, que desvincule o ser-pessoa e o ser-artista. Isso vale tanto para a relação do artista com o seu trabalho quanto para a relação do artista com o público.
Acompanhando a trajetória do Teatro Máquina, percebemos sempre presente a preocupação de experimentar os espaços relacionais, física e simbolicamente, desde as plaquetas excessivamente didáticas do Quanto custa o ferro?, passando pelo exercício das possibilidades espaciais em Leonce e Lena, ou ainda no uso da repetição estrutural e coreográfica de Répété e atingindo o seu ápice no experimentalismo multimídia do Cantil, sobretudo nos diálogos entre a cena, o corpo e os dispositivos audiovisuais.
É no sentido da busca incessante de experimentação que vemos como bastante promissora a nossa parceria com este grupo. Nesse momento, um estudo em torno do texto Insulto ao público, de Peter Handke, ratifica sobremaneira a pesquisa do projeto cadaFalso sobre os espaços de performação e as possibilidades de proposições relacionais, além do viés intersemiótico dos vários tipos de linguagem artística.
Não nos interessa apenas montar um espetáculo – talvez nem isso – mas estabelecer um processo de interlocução em que ambos os grupos cambiem suas experiências pessoais e artísticas e se permitam a uma contaminação salutar de suas estéticas.