quarta-feira, 4 de maio de 2011

OdeAoSilencioAoPercebido...

Tarefa: Pegar, em casa um saco plástico sem furos e ir à praia do Náutico guardar a maresia. Chegar em casa, tomar banho, fechar a porta do quarto e cheirar a maresia contida no saco.

Na cozinha de casa, puxando vários sacos do puxa-saco. Difícil achar um que não tivesse furos. Achei enfim, Um saco de mercantil. Dobrei-o em losangos e fui caminhar até a praia do Náutico. O caminho silencioso até lá foi permeado de imagens que me apareciam. Imagens do cotidiano da Beira-mar de Fortaleza. Não lembrava mais como se dava apesar de morar tão perto. Pai caminhado e filho de dois anos correndo à sua frente, Meninos de patins na quadra ao lado do Bol. Eles desviavam dos obstáculos, policiais em seus patinetes equilibrados, homens malhando e exibindo seus corpos feito pavões e as ondas batendo sem som. Casais jovens e velhinhos amorosos.
Em frente à Barraca G2 o relógio marcava 18h48. Acarajé, pipoca, tapioca, milho verde, praia do Náutico. Desci a barreira, meninos jogando bola, abri ‘meu saco’. Guardei aquela maresia amoníaco e me pus a subir por aquela barreira. Milho verde, tapioca, pipoca, acarajé. Relógio marcava 18h51. A medida que caminhava, em meu rosto um semblante de preocupação, coração pulsava mais rápido. O ar do saco estava saindo. A imagem do saco mudando de tamanho foi estranha. Sensação de perda. Braço bate na saia rodada e quase espoca. Atenção maior ao saco e postura corporal muda. Braço à frente segurando o saco quase seco. Com o mesmo ritmo de quem caminha sem propósito, chego em casa. Mamãe abre a porta, tagarela. Dedo à boca e cabeça assertiva me responde. Chego ao meu quarto, cato no lixo uma liga que antes havia jogado e amarro a boca do saco. Banho. Mudo de quarto, o quarto da mãe silencioso. Com um cuidado de mãe desenrolo a boca e sugo para dentro o que sobrou: cheiro de não sei o quê. Silêncio.

Um comentário:

  1. a proposta é linda e seu texto tbm... entre tanto "registro" é muito bom saber que ainda se pode narrar, e criar imagens com(o) palavras...
    muito bonito isso de não ser edita(l)do...

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